O Cão e o Gato

13-11-2011 19:00

O Cão e o Gato

O cão e o gato não eram amigos, mas faziam de conta. Viviam ambos abrigados no casebre de uma pobre velha, que com eles repartia o pouco que tinha. 

 

- Sejam amiguinhos. Sejam amiguinhos - estava sempre ela a dizer-lhes. 
Pela comida e dormida os dois incorrigíveis inimigos aturavam-se. Que remédio. 
Um dia, a velhota morreu. Vieram os filhos, vieram os netos e enxotaram-nos do casebre. 
Cão e gato, tristes por terem perdido a sua protectora e o mínimo de conforto que ela lhes proporcionava, ficaram a rondar a casa, mas cada um para seu lado. ?Sejam amiguinhos. Sejam amiguinhos", ainda lhes soava nos ouvidos. 
Choveu. Fazia frio. Tiritantes e cheios de fome, acolheram-se a uma gruta. Era uma gruta muito comprida, tão comprida que eles se internaram por ela adentro, à procura nem sabiam de quê. 
Cada vez mais fundo, cada vez mais longe do mundo que conheciam, foram ter a uma clareira iluminada. No meio, sentado nas pernas cruzadas, estava o Génio das Cavernas. 
- Que querem de mim? - perguntou-lhes o Génio. 
A bem dizer, eles não queriam nada a não ser um dono, comida, calor, carinho. Foi o que pediram. 
- Concedido - disse-lhes o Génio. - Com uma única condição: cada um transforma-se no outro. 
Eles, a princípio, nem entendiam a proposta, mas quando perceberam que o gato tinha de passar a cão e o cão, a gato, protestaram com toda a gana. 
- Eu não quero ser cão - bufou o gato. 
- Eu não quero ser gato - rosnou o cão. 
Nada feito. Ou aceitavam a troca ou acabariam por morrer, à fome e ao frio. 
Lá se resignaram à mudança, já que a alternativa também não era nada apetecível. 
O Génio executou a magia e o gato passou para a pele de cão e o cão para a pele de gato. Esquisito. 
Correram ambos na direcção da entrada da gruta, ainda assarapantados. 
- Que cãozinho e que gatinho tão bonitos. Posso levá-los para casa? - perguntou uma menina ao pai. 
- Os cães e os gatos não se dão bem uns com os outros - apressou-se a explicar o pai. 
- Mas estes dão-se. Tão juntinhos. Tão amigos - disse a menina. 
Era verdade. Cada um olhava para o outro como se fosse ele próprio. Ora, como é que uma pessoa ou um bicho pode dar-se mal com ele mesmo? 
E assim o gato-cão e o cão-gato arranjaram uma nova dona. À noite, enroscados um no outro, não se sabe onde começa o cão e acaba o gato. Fizeram-se, realmente amigos. 
Até pode acontecer que, um dia, o Génio das Cavernas lhes devolva as respectivas identidades e o cão volte a ser cão e o gato volte a ser gato. Mas valerá a pena?

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