Cuidado com o Poço

16-11-2011 12:31

Cuidado com o Poço

 

Uma raposa, que vinha a fugir dos caçadores, enfiou para dentro de um poço, à falta de melhor esconderijo. 
Lá no fundo, lamentou-se: 
- Safei-me de morrer de uma chumbada, mas daqui de dentro é que eu não me salvo. 
Era um poço seco, um poço abandonado. Recordando o antigo uso, tinha na borda um balde, preso a uma corda de rodízio. A outra ponta da corda estava caída no fundo, aos pés da raposa. 
- Se eu conseguisse trepar pela corda acima, estava garantida - pensou a raposa. 
Tentou, mas só conseguiu soltar o balde que balançou, na outra extremidade, como um sino sem badalo. 
Uma ovelha, despegada de um rebanho que pastava num monte perto, estranhou o barulho e o balde a baloiçar, na boca do poço, e foi espreitar. A raposa viu-lhe a cabeça felpuda e gritou-lhe: 
- Senhora ovelha, ainda bem que a encontro. Quero partilhar consigo esta novidade. Encontrei aqui em baixo uma mina de água, que é a uma maravilha. Um milagre! Mal a bebemos, ficamos com asas. Tão leves, tão leves que nem passarinhos? 
A parva da ovelha entusiasmou-se: 
- Com asas? Quem me dera! Como posso provar dessa água milagrosa? 
- Meta-se no balde, que está aí em cima, e venha ter comigo, antes que a água acabe. 
A ovelha não pensou duas vezes. Atirou-se para dentro do balde, que desceu com o peso, puxando para cima a outra ponta da corda, onde vinha agarrada a raposa. 
- Eu bem dizia que este poço dava asas - dizia a espertalhona, ao pôr os pés em chão seguro. 
E fugiu daquela armadilha do destino, a rir-se da malvadez. 
A ovelha baliu desesperada e humilhada com a sua tontice. Dar ouvidos a uma raposa, acreditar em água ou o que fosse que oferece asas a quem quer beber, que disparate, que estupidez! 
Por tanta imbecilidade junta, mais merecia ela lá ficar no fundo do poço do que a raposa. A ovelha chorou, mas já não lhe valia de nada. 
Vá que vá que ainda lhe valeu? 
O pastor, quando foi a contar as ovelhas e deu pela falta de uma, foi procurá-la. 
Chamado pelas lamúrias da ovelha, chegou-se à beira do poço e salvou-a a tempo. 
Vá que vá que a história acabou em bem? 
Mas nem sempre acabam assim?

 

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