Por causa de uns cabritos

Por causa de uns cabritos

Era uma vez um homem. Era uma vez uma mulher. Encontraram-se, agradaram-se um do outro e vai daí casaram-se. 
Esta história começa onde as outras acabam. Mas há mais para contar. 
A mulher levou para a nova casa uma cabrinha de que nunca se apartara. O homem levou um bode, que sempre lhe fizera companhia. 
Já se vê que a cabra e o bode apreciaram a ideia. Meses depois nasceram cabritos. 
- Vou vendê-los no mercado e com o dinheiro que ganhar quero comprar umas coisas para mim - disse o homem. 
- E para mim? - perguntou a mulher, fazendo cara feia. 
- Para ti? - admirou-se o homem. - Os cabritos pertenciam-me. A tua cabra, quando veio cá para casa, não tinha cabritos. O meu bode é que lhos fez. Portanto, os cabritos pertencem-me. Posso fazer deles o que eu quiser. 
Não era este o ponto de vista da mulher. Quando há pontos de vista opostos, há discussão. Às vezes, a discussão escorrega para zanga. Foi o que aconteceu. 
Fizeram mais barulho do que deviam e os vizinhos foram queixar-se ao juiz. Ele, que sabia julgar, que decidisse daquele caso. 
O juiz, um rapaz novo e bem disposto, ouviu a história, pensou um bocadinho e disse: 
- Eu hoje não posso tratar desse caso, porque tenho de ir avisar a minha mãe de que o meu pai deu à luz um bebé. 
Ficaram todos muito espantados. Depois, desataram a rir. 
Quando o dono do bode ouviu a resposta do juiz também se riu. E a mulher com ele. Aliás, ela ainda se riu mais. Estava tudo esclarecido. 
Tempos depois, na casa do homem e da mulher que por pouco não fora abaixo por causa de uma discussão de cabritos, nasceu um menino. Dos dois, já se vê.

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