O Boi Manso

11-10-2011 13:38

O Boi Manso

 

O boi regressava do trabalho, ao entardecer. Vinha muito cansado. Por caminhos torcidos e pedregosos puxara, o dia todo, um carro de bois, que, bem vistas as coisas, devia antes chamar-se carro de boi, porque ele, sozinho, fazia as vezes de uma junta de bois, dos mais possantes. 
Estava mesmo exausto. A caminho do estábulo, já apaladava, na imaginação, a saborosa ceia de feno, que o aguardava na manjedoira. Merecida. 
Entrou no estábulo e o que viu? O cão da quinta, deitado no fofo do feno. 
- Tenha muito boas noites - disse o boi, que era muito manso e bem-educado. - Podia fazer o favor de sair de cima da minha manjedoira? 
- Não. Não - ladrou o cão. 
O boi, cheio de paciência, insistiu: 
- Estou com muita fome, mas prometo-lhe que, depois de comer, ainda lhe deixo feno suficiente para a sua cama. Agora, agradeço-lhe que me desampare a manjedoira. 
- Não. Não - ladrou o cão. 
- Admito que esteja a incomodá-lo, mas será por pouco tempo. Com a fome que trago, garanto-lhe que como o feno num instante. Podia afastar-se por um bocadinho? 
- Não. Não - ladrou o cão. 
- Eu entenderia a sua má disposição se o soubesse apreciador de feno. Mas se para si não serve, senão como cama, porque me proíbe de comer? Ou quer provar também do meu jantar? 
- Não. Não - ladrou o cão. 
Era malhar em ferro frio. O cão não saía da sua, não se convencia com boas palavras. Que outros argumentos podia o boi utilizar? 
Vamos lá ver. Só há duas saídas para esta história. 
Numa, o boi manso desiste da ceia e passa a noite roído de fome. No dia seguinte, voltará a trabalhar, em estado de fraqueza e tão debilitado que não conseguirá puxar o carro, como o dono lhe exige. Um boi sem préstimo é um boi condenado ao matadouro. Um triste fim, portanto. 
Noutra hipótese, o boi manso lembra-se de que tem em comum com os bois bravos os chifres pontiagudos, que servem de defesa e de ataque. Uma marrada de boi é um caso sério. 
Qual dos dois fins vamos escolher? 
Tu é que decides. Tu é que mandas. 
Já decidiste? 
Pois foi assim mesmo, tal como determinaste. Uma resolução muito acertada. 
Contar mais, para quê? O que se passou dentro do estábulo nem se descreve. Tudo muito rápido. 
Está, agora, um cão a ganir às estrelas: 
- Caim! Caim! Boi ruim! Caim! Caim! 
Porque será?

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